A Última Fala





De tudo que ocorria no culto, a parte mais esperada para Bruno era a última fala do pastor. Membros e convidados se levantavam e saíam da rotineira indiferença social para iniciar a sessão de cumprimentos. Alguns se limitavam aos bancos mais próximos, enquanto Bruno preferia explorar todo o templo. Afinal, aquele era um período muito rápido, mas também oportuno pra conhecer os membros. Ele mesmo não havia entrado no rol de batizados, mas os visitantes o viam como membro de longa data, um verdadeiro anfitrião. Isso porque ele se concentrava mais nos que ainda não se sentiam confortáveis no meio cristão.
Pois bem, quando completaram trinta dias que Bruno tinha colocado os pés no templo, eis que este não aparece no domingo. Ninguém sentiu nada de anormal. Isso apenas até a última fala do reverendo. Uma senhora percebeu a ausência de Bruno e logo a notícia correu. Porém ninguém sabia seu nome, pois ele nunca se apresentava, sentindo-se obrigado apenas em deixar os convidados confortáveis. Passou-se o dia, até que a fatídica notícia fosse dada.
No culto à noite a igreja se calou e escutou do reverendo que Bruno havia morrido de infarto fulminante enquanto dormia. Um burburinho tomou conta do templo, até que uma garota se levantou e pediu a palavra.
- Quando cheguei à igreja, poucos me acolheram. Dentre esses estava o Bruno, que todo domingo chegava com um sorriso e perguntava como tinha sido minha semana e se deixava à disposição para qualquer coisa. E foi por causa da hospitalidade dele que eu não desisti da igreja.
Enquanto a moça ainda estava de pé, um senhor se levantou e, pausadamente, disse como Bruno o havia recebido e acolhido. Essa atitude fez com que várias pessoas deixassem os bancos e dessem seu depoimento, todos sobre Bruno. Os membros da igreja, assustados, tentavam lembrar do falecido, mas poucos se recordavam. Isso porque suas consciências pesavam, pois além de não se lembrar de Bruno, também não se recordavam da última vez que haviam verdadeiramente acolhido um visitante.
Assim foi a estadia de Bruno na igreja. Bastou um mês para que mais de trinta pessoas se firmassem na fé. Sua atitude foi recordada por muito tempo por aquela igreja, que precisou perder um dos seus para amolecer o coração e abrir caminho não apenas para o templo, mas também ao corpo de Cristo.

Alcy Filho


Imagem: vnduan